sábado, 28 de setembro de 2013

"Mudei de sítio. Levei a tralha toda e um carro. Fui sozinha para encontrar novas pessoas, pessoas, não robots egocêntricos. Por norma compra-se uma casa, aluga-se vá, nos tempos que correm. Encontrei uma bem pequena, bem ferrugenta. É cinzenta e cheia de pó. Com muita madeira. Arranjei maneira de fazer uma sala, uma cozinha e um quarto. Limpei tudo e pintei. Não era a minha casa de sonho, mas era um lar. Não me imaginava a casar e a ter filhos lá, mas imaginava-me a partilha-la com alguém que gosto. Um amigo próximo, talvez. E assim foi. Começámos por falar e ele a ir lá a casa para me ler a sua coluna no jornal. Era uma coluna aborrecida, acerca de acontecimentos monótonos. Ele lia e eu ficava orgulhosa da escrita dele. Há anos que não tinha um amigo assim, tão idêntico a mim. Daqueles simples, que estão lá para por o pé a frente do nosso para nos fazer cair no meio do chão. E ele ria-se com essas coisas. Eu ria-me com ele. Todos lhe perguntavam como estava a sua nova companhia, eu. Respondia com um sorriso que era só uma amiga, uma boa amiga. Porque os amigos não se perdem, pois não? Os grandes amigos.
Era uma nova pessoa, nada me prendia. Onde estava conheci as melhores pessoas mas também as piores. Tive os melhores momentos que alguém pode ter e bloqueio a minha mente para não se lembrar dos piores. Porque há muitas pessoas más. Daquelas que arrancam o nosso coração à dentada depois de o acarinhar. Mas ninguém é uma branca de neve para ser salva pelo seu príncipe e viver feliz para sempre, não é? Porque a definição de para sempre, nesta terra de sonhadores e mal amados, é um segundo, por vezes. O encantamento torna-se numa maldição. A maldição faz-nos procurar o que nos é familiar. Significativo é dar tempo ao tempo e já ninguém o faz. (...)"

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